Apetece-me
em tom de protesto
Dizer
que detesto
O
resto de gente
Que
sendo indigente,
Se
acha tenente
Na
desordem vigente!
Falar
que são pulhas, ladrões,
Não
preenche os galões
Desses
sem colhões,
Esses
grandes bandidos
Que
só por inércia,
não são abatidos.
Ou
colhidos por carros,
Ou
cobertos de escarros,
Ou
se não fosse caro,
Empalados
em Faro!
Falo
obviamente
Dessa
tacanha gente
Que
não sendo evidente
Acaba
na verdade,
Mais
cedo ou mais tarde,
Por
assinar a escritura,
Daquela
que será
A
nossa sepultura!
Fossemos
um povo decente,
Composto
por gente,
Não
de alta patente,
Mas
ao menos coerente,
Tudo
seria diferente.
Diz
obviamente o chacal
Já
com o pé entalado
Num
cargo malfadado
De
deputado mal pago.
O
que esta gente esquece,
É
que o povo não desmerece,
O
chavão de povão,
Por
isso, quando a corda aperta
E
o dinheiro se aparta,
de burburinho em burburinho
Se
põe os pés ao caminho
Pra
perguntar ao vizinho:
“olha
lá, inda tens vinho?”
“só
mais uns garrafões,
tu
ainda lá tens rojões?”
“sou
capaz de ainda ter
papas
e umas tripas e umas latas
de
cervejas,
das
fresquinhas, benditas!”
e
conclui-se a missão
de
inquirir a razão
d’áfamada
recessão
inflação
e em conclusão,
puta
de situação
em
que se encontra o povão,
que
graças a Deus
se poup’á aflição
vivendo
de um mínimo salario
que
é cál’ó´tário.
Depois
há o filantropo
Que
com o seu grupo
dos
“ai coitados, ai coitadinhos,
vamos
ajudar os pobrezinhos,
q’ueles
sozinhos não conseguem,
não
têm consciência
e
vivem na inocência
de
que a vida é indigência.”
Ora
então ouça lá:
Filantropo,
meu amigo,
Há
uma falacia claro está,
Palavra
que o povo não entenderá, né? É!
Claro
está!
Mas
meu amigo, caro amigo,
Companheiro,
camarada,
Meu
grande pioneiro!
A
falacia onde é que está?
Ela
assenta, caro colega,
Nessa
estrondosa talega
Que
o senhor nos delega,
Pois
quando chega a hora
E não os põe de fora!
Justifica
os juros de mora,
Com
a fauna e a flora
Pelo
menos até encontrar a hora
para
ir jantar fora!
É
que o pobrezinho,
Já
lho digo, antes prefere
O
mendigo vinho
Que
o cargo de hipócrita!
Meu
amigo, como tal,
Antes
votar no mesmo mal,
que
votar em fulano de tal
que
vai para a neve pelo natal!
Ora
e onde é que isto nos deixa?
No
ponto em que quem se queixa
É
porque largou a ameixa!
Dos
tempos da velhinha,
Ficou-nos
a coisa mais comezinha,
Lá
no fundo, entranhadinha!
Querer
saber lá da vizinha,
O
que faz e a que horinha
E
se o faz, se o faz sozinha!
Temos
hoje um facho na moleira,
Que
nos censura cada asneira
E
que se sentir gente á beira
Nos
activa no cerebelo
O
querer remexer cada pelo
Da
existência do outro,
Do
opinar do outro,
Do
acreditar do outro,
A
tal ponto que já é normal,
Dizer
mal de fulano de tal,
Só
porque tal e tal!
E
assim se soma e segue
Sendo
a única conclusão
A
de que :
Ladrão
que rouba o povão
Tem
uma vida de patrão!